terça-feira, abril 12, 2005

Verdades Construídas Sem Querer (querendo) Parte II

Dois amigos conversam:
- Você sabia que Brasília tem o maior índice de câncer de pele do país?
- Aé? Não. Por quê?
- Eu acho que é por causa da atitude.
- Nada a ver, segundo o que a gente aprendeu em biologia, era pro sul ter um índice maior porque lá há mais pessoas de pele clara, ou seja, menos melanina, menos proteção.
- Pó, mas eu vi na Super Interessante!
- Ah, bom, achei que você estava me enganando.

Parece que nesse mundo ocidentalizado para saber que informação é válida ou não, só precisamos saber se sua comprovação científica foi publicada e a fonte. Informações sobre índios: se um antropólogo disser é verdade. Células tronco: é verdade se vier de pesquisa de uma universidade, dita por um biólogo, ou um médico, mas se sua vizinha bancária disse, desconfie, porque ela pode ter ouvido e distorcido.
Hahahaha, como se uma revista tipo a Superinteressante não distorcesse, nem criasse nenhuma verdade na produção do texto a publicar. Mesmo que não seja essa a intenção, às vezes dependendo da forma que a revista coloca no texto, lemos como algo comprovado e conseqüentemente temos uma nova verdade para guiar nossas vidas. Entretanto o mais interessante é quando se tem essa intenção.

Por exemplo, sai lá: “Pesquisadores de Cambridge afirmaram encontrar um hormônio a mais no cérebro de homem, que indica uma propensão à poligamia. Sendo quase nula a quantidade do mesmo hormônio na mulher. Logo isso talvez explique todo o histórico adultero dos homens.” A partir disso, Joãozinho sai tranqüilamente (sem mais culpas) traindo a esposa, enquanto ela se consola em casa: “fazer o que? se é da genética dos homens?”

Pesquisadores de Cambridge? Quais? Quantos? Quando foi feita a pesquisa? Quanto tempo durou a pesquisa? Com quem fizeram, qual o tamanho da amostra de cérebros? O que o cérebro reconhece como poligamia? Há outro lugar em que eu posso ver isso, tipo a página do Departamento de Neuroendocrinologia de Cambridge com os detalhes da pesquisa? Não. Não se desconfia daquelas informações porque saíram numa revista muito famosa, que não vai ficar mentindo à toa. E veio de Cambridge, mais confiável ainda! Não se dá atenção pra palavrinha “propensão”, que já tira a certeza. Muitos menos na conclusão que a Superinteressante dá – humilde ainda, porque usou a palavra “talvez”. Mesmo assim, já se encara como uma verdade. Não se questiona. É uma legítima DESCOBERTA. Tudo foi explicado, acabaram-se as divergências.

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