quinta-feira, dezembro 06, 2007

Gangue de mulheres surra homens no norte da Índia

Soutik Biswas
(De Banda - Índia)




A gangue tem feito protestos sérios contra autoridades corruptas

Um grupo de mulheres indianas que se autodenomina gulabi gang, ou a gangue rosa, está fazendo justiça com as próprias mãos na empobrecida região da cidade de Banda, no norte da Índia.

Dois anos após ter surgido como um grupo organizado, com nome e indumentária característicos, a gangue já deu surras em homens que abandonaram ou bateram em suas mulheres e denunciou práticas corruptas na distribuição de comida para os pobres.

Elas vestem sáris cor-de-rosa (o sári é a roupa tradicional feminina na Índia), saem em perseguição de autoridades corruptas e, quando necessário, se armam com varas e machados.

As centenas de adeptas da gangue fogem de associações com partidos políticos e organizações não-governamentais porque, nas palavras de sua líder, Sampat Pal Devi, "eles estão sempre esperando alguma coisa em troca quando oferecem ajuda financeira".

"Mulheres precisam de homens"

"Ninguém nos ajuda nessas redondezas. As autoridades e a polícia são corruptas e são contra os pobres. Então, às vezes temos de fazer justiça com as nossas mãos. Em outras situações, preferimos envergonhar os malfeitores", explica Sampat Pal Devi, enquanto ensina uma das mulheres da gangue a usar um lathi (vara tradicional indiana) em defesa própria.

Castigada pela seca, Banda fica em uma das áreas mais pobres de um dos Estados mais populosos da Índia, Uttar Pradesh.

O fardo da pobreza e da discriminação, em uma sociedade baseada em castas e dominada pelos homens, acaba pesando mais sobre as mulheres. Pedidos de dotes, violência doméstica e sexual são comuns.

A líder Sampat Pal Devi, por exemplo, é esposa de um vendedor de sorvete e tem cinco filhos, o primeiro nascido quando ela tinha apenas 13 anos.

"Não somos uma gangue no sentido comum da palavra. Somos uma gangue pela justiça."

O grupo também não se considera feminista. As mulheres dizem que já devolveram 11 meninas que foram expulsas de casa aos maridos porque "mulheres precisam de homens para viver junto".

É por isso que homens como Jai Prakash Shivhari também se aliaram à gangue e discutem com veemência temas como casamento infantil, mortes associadas a dotes, falta d'água, subsídios agrícolas e desvio de verbas em obras do governo.

"Não queremos doações ou esmolas. Não queremos conciliação ou ação afirmativa. Dê-nos trabalho, pague-nos salários decentes e devolva nossa dignidade", ele diz.


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Tá, que uma notícia dessas seja lida como manifestação de insatisfação e de protagonismo de mulheres que têm consciência da desigualdade a que estão diariamente submetidas e estão fazendo algo contra. E não, que venham me falar: "E aí, feministas, vcs não querem que os homens batam em vcs, mas essas mulheres podem?, nhem, nhem, cadê a igualdade?". Pelo amor das deusas, tente ter uma noção mínima e ampla do fenômeno para entender que isso não tem nada a ver! Não, não é o oposto, é diferente, é reação transgressora e legítima, não uma prática cotidiana reiteradora de poderes, porra!

sexta-feira, novembro 30, 2007

Pelos 16 dias de ativismo

Mulheres: Sem medo de denunciar*


Às vésperas do início da edição anual desta campanha, a divulgação da informação de que uma jovem atirada à prisão para ser torturada por estupros por parte de presos na mesma cela causa indignação e merece um público e veemente repúdio.

Quando nos perguntam sobre os avanços conquistados pelas mulheres desde a segunda metade do século XX, nunca fizemos um balanço otimista. O aumento significativo do ingresso de mulheres nos cursos superiores e a participação no mundo do trabalho formal faz parecer que se avançou muito. No entanto, não engendrou salários iguais aos dos homens mesmo quando a escolaridade da mulher é maior, sem falar no peso da dupla jornada. Entretanto, como ocorreu em Abaetetuba (e não é só lá) é revoltante ver o estado lançar mulheres nas celas junto a vários homens sabendo que serão estupradas.

No início do horário de verão, um homem feriu a esposa por ela não ter atrasado o relógio. Um rapaz ameaçou invadir a escola onde estuda uma jovem que ele desejava que fosse sua namorada, ameaçando-a. Um outro rapaz, não quis aceitar o rompimento com a namorada. Foi até o município onde ela estudava, abordou-a na entrada da faculdade matando-a. Um homem chegou em casa, quebrou móveis e louças, empurrou a esposa e suas duas filhas (de menos de 10 anos de idade) para fora de casa e se trancou para dormir: as três ficaram na rua durante toda a noite.

Quantas mulheres, ao longo da história foram impedidas de votar e de estudar. Mas isto não é coisa do passado. No dia 6 de dezembro de 1989, um estudante irrompeu na Escola politécnica de Montreal (Canadá) e atirou nas mulheres. Não aceitava que as jovens adentrassem nos cursos de engenharia dizendo elas roubavam as vagas dos homens. Atirou furiosamente assassinando 14 mulheres. Daí surgiu a Campanha do Laço Branco pela quais homens se engajam mobilizando-se pelo fim da violência contra a mulher.
- a cada minuto, 04 mulheres são espancadas ;- em cada 10 casos registrados, 7 têm como agressor o marido, namorado, ex-companheiro, pai e parentes;- a cada 9 segundos, uma mulher é ofendida na sua conduta sexual;
A campanha pelo fim da violência contra as mulheres que de 25 de novembro a 10 de dezembro ocorre simultaneamente em mais de 130 países, necessita, pois, de muita garra. A Secretaria Especial de Políticas para Mulheres disponibilizou o telefone gratuito 180 para orientar as mulheres, funcionando 24 horas, inclusive nos sábados e domingos.

O patriarcalismo ainda está vivo: houve juiz que ousasse pronunciar-se contra a Lei Maria da Penha (Lei nº11.340) considerando-a inconstitucional. Estamos nos empenhando na direção contrária, divulgando a lei, incentivando as mulheres para que denunciem seus agressores, sem medo. Quem deve ter medo é o agressor. É preciso que a Lei nº 11.340 saia do papel. Afinal, uma vida sem violência é nosso direito.

Dia 25 de novembro Resgatando a História:
Brutalmente assassinadas pelo ditador Rafael Leônidas Trujillo, da República Dominicana, as irmãs Mirabal Minerva, Maria Tereza e Pátria Mirabal são justamente lembradas pra marcar a campanha 16 dias de ativismo pelo fim da violência contra as mulheres. Essa campanha inicia-se exatamente na data do assassinato delas: 25 de novembro (1960).

*Por Iolanda Toshie Ide

segunda-feira, novembro 05, 2007

Podridão




Acho repugnante a sensação de dar conselhos sobre os sentimentos alheios com a certeza de que o que digo está certo.


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Como assim? Como você pode ter certeza? Como você pode achar que as pessoas funcionam assim? Quem é você? O que você sente?


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Não sinto algo além de nojo da certeza. Nojo dessa "plenitude" da não-dúvida, do exato, do matemático, do limpo, do reto, da causa-conseqüência, do "ó, é assim que a vida funciona, se liga!".


Sinto nojo, ódio, desorgulho e vergonha.


Vergonha de não ter vergonha alguma em expor essa podridão aqui neste momento.






segunda-feira, outubro 29, 2007

Eu, vocês e o que não mais somos

Os quadros de lã e palha que compramos quando fomos à Canela por volta de 1989;
Aquele vinil do John Waiter com o rosto pintado que me fazia chorar de medo quando tinha 5 anos de idade;
Aqueles barulhos do relógio da música Time do Pink Floyd, que ela nunca gostou, mas ainda é sua banda preferida. Aliás qualquer som que saia do Pink Floyd;
Aquela vez, quando tinha 13 anos, e encontrei uma fita brega de vocês intitulada "Músicas para Amar" e me fez morrer de rir ao pensar que vocês namoravam ouvindo o Bob Dylan dizendo algo como "Lady Lee Lay"
Aquela vez que você viajou e eu, brincando com o Yuri, cortei o supercílio e ela gritava desesperada comigo no colo para os vizinhos nos levarem no hospital. Ela sempre ficava mais aflita sem você, mas daria a vida por mim naquele momento.
Assim como aquela história que você sempre me conta de quando eu era bebê e, quase morrendo por febre, você entrou de baixo do chuveiro gelado chorando e rezando para que eu não morresse.
Vocês sempre dizem que eu era uma criança doente e me tornei uma mulher forte.
Por favor, perdoe minha suposta fortaleza que não consegue compreender como é difícil para vocês. Desculpa-me e obrigada por, com essas lembranças, derramar a primeira lágrima depois de tanto tempo.

quarta-feira, outubro 24, 2007

Tempestade de idéias - penúltima semana de outubro de 2007

"Eu só queria sujar aquela beleza. Estragar algo limpo."
"Quando você chega em casa e esquece o que há para fazer. Todas aquelas coisas que você desejou estar fazendo o dia inteiro. Simplesmente, desaparece. é só você ali, sem nenhuma idéia nem vontade, além de dormir para passar o aquele momento em você lamenta não aproveitar."
"Esse é o momento que você tanto esperou. Você só não esperava estar vivendo ele agora e que seria só um momento e não um desejo realizando-se. é só aquilo: você ver passando em frente aos seus olhos como uma das árvores avistada no infinito campo externo ao trem."
"this is your life, it ain't get any better"



Viva!

segunda-feira, setembro 17, 2007

Às feridas que nunca se fecham

O mais engraçado dessa reflexão é que sou uma pessoa que costuma fechar as feridas. E é justamente isso que me incomoda. Por um lado muitos diriam: que bom que você não tem feriadas abertas; é ruim guardar rancor; por que levar a dor de uma perda, uma traição, uma desavença, a vingança para sempre no seu coração? E por outro lado eu responderia, que coração existe se eu não carregar as suas feridas? Ou seria um coração situacional, aquele que responde aos anseios do momento, depois você vai lá, faz um bkup consciente e zera novamente? Isso seria bom?
Não é a mesma coisa que dizer que não tenho lembranças, não tenho sentimentos, mas parece-me cruel que o tempo cure tudo eficazmente. Parece-me cruel não se importar com algo que você tanto se importou por um tempo. Sinto-me cruel por não me importar. Sinto-me cruel por ter te perdoado, ou melhor, nunca te perdoei, apenas deixei de me importar. O ideal humano seria perdoar do fundo do peito, ou então não perdoar e arder de vingança até que esse dia chegue ou até a sua morte: mas não se importar? Que cruel!
Então eu sei que se deixei de me importar com você, se fechei a ferida, posso fechar qualquer uma. E então a vida segue como um joguinho de riscar e apagar. Cortar e costurar. Nada dura, nada fica em seu lugar. O que foi, não é mais e o que sou agora? Um momento. Sou um momento fugaz constantemente analisado por uma “consciência”. Esta, neste momento, incomodada por não encontrar feridas abertas.

Busco intensamente alguma lembrança, algum rastro de coisa ruim: só encontro um. Não sei se é uma ferida aberta, mas estranhamente esse rastro ruim me faz sentir mais humana.

segunda-feira, setembro 03, 2007

Cara, como esse blog ficouhomossexual!

ahhhhhh, como outros assuntos tornaram-se doloridos...
Mas vamos lah, que ainda sai besteiras desses miolos: quem sabe uma disciplina de um post por mês pelo menos?
Não, pressas coisas eu nunca tive disciplina...



Então espero sair....

terça-feira, agosto 07, 2007

Discussão Pacífica e Sensata Sobre a Legalização do aborto Parte I

Escrevi esse texto porque encontrei um cartaz da passeata contra a Legalização do Aborto que vai haver em Brasília no dia 15 de agosto. O cartaz é uma barriga de uma mulher com um ultra-som em que aparece uma cabeça de um bebê com no mínimo 5 meses de idade. Um absurdo. é bom lembrar também que o bebê tem rosto e a mulher não.

Quero com esse texto uma discussão pacífica com quem é contra a legalização do aborto, mas que não tem conhecimento da dimensão que deve ser discutida no governo. Essa posição independe de crenças e ideias (até porque existem instituições de inspiração religiosas que são de acordo com o que falo) e não se trata do “é certo ou não abortar” e sim de uma política de saúde pública que vai muito mais além do que você imagina. Escrevi esse texto a partir de uma posição que é contra o aborto, mas nunca contra a legalização do aborto. Não é exatamente uma posição feminista, pode não ser a minha, mas é uma posição sensata. Por favor, apenas leia.

Mentiras Ditas sobre a Legalização do Aborto Parte I

Se te disseram que legalizar o aborto vai fazer com que todas as mulheres “saiam abortando” todos os dias fetos de até 9 meses de gestação nos hospitais fazendo com que o números de abortos aumentem drasticamente, você foi enganad@ porque:

1) Os números já são drásticos: aproximadamente 1.000 mulheres morrem por ano ao realizar abortos na clandestinidade. Fora essas, soma-se as que não morreram, porém chegaram aos hospitais beirando a morte. Essa soma é aproximada porque para saber o número real de abortos feitos hoje você teria que somar as mulheres que morreram (oficial), as que quase morreram (oficial), mais as que fizeram em casa e não se adoentaram (oculto) e mais todas aquelas riquinhas que fazem em clínicas caríssimas nas melhores condições de saúde de forma clandestina (elegantemente oculto). Ou seja, se o aborto fosse legalizado, o governo teria oficialmente os números de abortamentos e poderia controlar, saber onde tem mais abortos, o porquê e como criar políticas públicas para DIMINUIR esse número de abortos. Sendo o aborto um crime não se tem controle, os números de abortos não diminuem, o número de mulheres mortas aumenta, mulheres são presas, não se discute por que abortaram e nem que o Estado pode fazer para mudar isso.

2) Em todos os países ocidentais em que o aborto foi legalizado há anos, observa-se cada vez mais uma diminuição do número de abortos. Esse é o objetivo: que as mulheres não abortem!!!! Que não precisem passar por isso porque têm informação para planejar uma gravidez saudável junto ou não com seu marido ou sua companheira.

3) Em nenhum país ocidental em que o aborto é legalizado, ele pode ser feito após 3 meses de gestação. Portanto, essas fotos que mostram abortamentos de bebês de mais de 7 meses com o corpo praticamente todo formado são surreais e feitas para fazer crer que a legalização do aborto significa todas as mulheres serem obrigadas a “matar” crianças prestes a nascer. Não será permitido aborto após 3 meses de gestação!

4) Ser contra o aborto é decidir por você. Ser contra a legalização do aborto é decidir por todas. Ser contra o aborto é não achar certo fazer um aborto. Ser contra a legalização do aborto é ser a favor da morte de milhares de mulheres, o que não condiz com uma idéia “pró-vida”. Mulheres essas que você nem conhece e que passaram por coisas que você nem imagina.

terça-feira, março 20, 2007

Parada do Orgulho Hétero em São Paulo

Ouvi falar que querem votar em São Paulo uma Parada do Orgulho Hétero.
Um absurdo! Pq?
Nada contra as pessoas héteros (até porque eu jogo nos dois times...). A questão é: Quem tem o mínimo entendimento de "movimentos sociais" entenderia que quem faz paradas, são minorias políticas (e não numéricas) que querem afirmar e pedir direitos iguais, por estarem em uma posição marginalizada. Por isso que ser homossexual, bissexual, ou ter uma identidade de gênero alternativa aos padrões se torna uma IDENTIDADE DA QUAL EU TENHO QUE EXPRESSAR MEU ORGULHO. É orgulho político, não só exibicionismo (tá certo que tem isso tb nas paradas, mas não é o objetivo principal). É orgulho de dizer que a minha sexualidade não vai mais ser motivo para eu ser discriminada. Só existe IDENTIDADE quando há exclusão de grupos. Héteros não são (pelo menos até agora) uma identidade política porque não nos foi ensinado que heterossexualidade seria uma "orientação sexual", mas sim uma condição de minha existência, algo "natural" a se fazer. O que é natural não é rotulável ("todo mundo que não é doente, é hétero"), não é discriminado como um OUTRO grupo fora do normal. Heterossexualidade, não tem portanto, uma identidade política, nem a que reivindicar. Quem já está incluído não tem pra quê pedir inclusão.
Qual será o objetivo da parada hétero? Reivindicar o direito de ser hétero? o direito de casar? o direito de um casal hétero dar um beijo numa boite sem ser expulso? o direito de poderem adotar filhos? o direito de não ser espancados na rua POR SEREM HETEROSSEXUAIS? o direito de não ser sacaneado na escola de "ai, que nojo, seu heterozinho!"? que caisais héteros sejam representados na T.V.? O que? Nada! Não há o que reivindicar, porque nenhum direito hétero foi roubado! Héteros não são discriminados por ser héteros! Héteros não apanham por ser héteros. Héteros são discriminados por serem negros, mulheres, índios, idosos, etc. É por isso que se faz manifestações sociais como paradas e passeatas e não para continuar sendo aquilo que todo mundo quer e apóia que você seja. Nunca lhe tiraram o direito de ser hétero.
Parada hétero é a mesma coisa que orgulho branco, delegacia para homens, empregos para quem já tem emprego, vaga em estacionamentos para pessoas de 18 a 59 anos, etc. Não tem sentido. E não haver sentido, não quer dizer que você não deva ser hétero e nem ter orgulho disso. Claro que pode! Não há problema nenhum em ser hétero, você só não tem um motivo para se organizar politicamente em torno disso. A não ser que a sociedade e @s homossexuais e T's dissessem: "heterossexualidade: podemos curar você dessa doença!". Claro que não, buscar o meu direito, não tira você de exercer o seu. O que tira o meu direito é você hétero não me aceitar como igual a você e me privar e julgar mal de fazer as mesmas coisas que você faz, ou me impondo que só as faça dentro de quatro paredes.

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

A Mulher e o Rock*

Nunca fui muito fã de Barbie ou de "coisinhas rosas" que se mexem e sorriem pra mim. Da mesma forma que na adolescência, meu maior sonho nunca foi ser modelo ou fazer plástica para ter seios maiores. Não... na verdade, eu queria mesmo ter uma banda de rock – isso mesmo, uma banda de rock. Daquelas que viajam pelo mundo e tocam nos bares mais toscos.

Percebe-se que nunca fui o que tipicamente se espera de uma menina. E mesmo em pleno século XXI, algumas pessoas se espantam ao ver mulheres em bandas de rock/metal, seja tocando ou apenas curtindo o som nos shows.

Certa vez, fui ao show de uma banda de death metal. Ao término do show, uma de minhas amigas queria tirar uma foto com o vocalista e fomos pra fila de autógrafos. Atos normais que qualquer fã/admirador@ faria. Enquanto tirava a foto da minha amiga com o vocalista, ouço: Olha aí as meninas se aparecendo pros caras da banda. Pergunto pro infeliz "Como é que é?" Pra piorar a situação, ele ainda tenta se explicar e complementa: Ué, mulher não curte metal. Mulher curte os cabeludos da banda, não é!?

Outra vez, eu não estava na platéia, mas no palco. São inumeráveis os “elogios” que mulheres que estão no palco ouvem. Vai desde “linda, tira a roupa, casa comigo, princesa a desce daí e vem me dar o seu o cú, sua vagabunda!”. Tudo que você imaginar que se refira ao seu corpo e quase nunca ao seu desempenho como musicista. Foda-se o que você está tocando: se subiu no palco “deu” o direito de ser objeto masculino e vai ter que pagar por isso. É um tipo de punição: muitas são palavras de ódio, pelo simples fato de você ser mulher. Então tem que ouvir, quando não ser vítima de um “abraço” suado e um beijo nojento e melado com cheiro de cachaça na bochecha. Sim, se mulher está no palco, eles se sentem no direito de subir para beijar.

Quando penso em experiências como essas, a impressão que me passa é que para ser inserida dentro de um grupo, toda mulher com atitude ou com gosto por músicas mais pesadas, são passíveis de desconfiança e por isso têm que passar por uma "comprovação". Como se tivéssemos que provar pra todos/as que sim, curtimos rock/metal; sim, nos divertimos no show e sim, conheço as músicas da banda. Imagine ter que provar constantemente que você pode tocar metal tão bem quanto um cara. Nós mulheres, estamos sempre em teste.

Ações como as relatadas à cima também são demonstrações de violência contra a mulher. Quando se fala em violência, é comum imaginarmos cenas relacionadas à violência física e sexual, como espancamento, estupro, etc. Mas também existem agressões pouco reconhecidas como a violência psicológica, moral, institucional e patrimonial. É importante ressaltar que o fato de uma violência ser menos reconhecida que outra, não significa que ela será menos importante ou terá menor impacto.

Nas histórias relatadas acima, exemplifiquei a violência psicológica e a moral. Estes tipos de violência se dão no abalo da auto-estima da mulher, por meio de palavras ofensivas, de desqualificação, difamação, proibições de estudar, trabalhar, se expressar, manter uma vida social ativa com familiares e amig@s, etc. Por não resultar em vestígios físicos ou materiais é de difícil detecção, porém também se constitui em violência que pode ser denunciada e julgada.

A violência contra mulher é caso sério e pode acontecer em todos os locais: na escola, trabalho, dentro de casa, entre amigos/as, num simples circular na rua e como vimos, em shows de rock.

Mesmo com toda a resistência às mulheres que formam bandas de rock – resistência que vai desde a falta de apoio da família e amig@s para elas aprenderem um instrumento até a violência moral e psicológica que vão sofrer ao pisar num palco – sempre houve bandas de rock com mulheres. Vimos Janis Joplin, Joan Jett, Sonic Youth, Vixen, L7, Smashing Pumpkins, Kittie, Nigthwish, entre outras lançarem cd’s, criar fãs e admirador@s no mundo todo. O que isso significa? Será que, na verdade, o rock sempre foi um espaço também feminino?

Não. Penso que todo reconhecimento que uma banda com integrante mulher conseguiu foi a custo de sua própria disposição em provar que a banda poderia fazer um som legal e ser ouvida. E aqui eu vejo duas estratégias diferentes que as mulheres acharam para se inserir no rock:

1- Elas fazem parte de bandas mistas, tocam entre homens. Nesse sentindo, a banda busca passar a mensagem que a presença de uma mulher na banda não muda seu desempenho, sua capacidade de compor boas músicas e fazer bons shows. Naturaliza-se a presença da mulher, constituindo “mais uma banda comum”. Nessa, todos os integrantes sobem juntamente e igualmente ao palco e quase todas às críticas direcionadas à mulher, também vão ser recebidas pelos homens da banda – o que gera uma cautela maior do público antes de falar merda.

O problema das bandas mistas é que esse maior “respeito” pela banda, parece-me, ocorre mais para com os integrantes homens da banda - respeita-se a legitimidade que eles deram àquela mulher ao “aceitá-la” na banda – do que para a mulher em si. De uma forma ou de outra, acredito que bandas mistas sempre contribuíram para tornar a mulher mais presente no espaço do rock e metal.

2- Elas montam “bandas de meninas”. Para isso é necessária muita astúcia, pois mesmo que não intencionalmente, a mensagem acaba sendo: “Vocês acham que a gente não toca nada e deveria estar rebolando para vocês, mas aí: eu não dou a mínima e se eu subi no palco, tenho o direito de tocar as minhas músicas e vocês vão ouvir.” Independente do discurso da banda de meninas – se são feministas, ou algo diferente – elas constituem bandas ofensivas a boa parte do público masculino do rock.

Poucas chegam a ter o reconhecimento musical que as bandas masculinas e mistas têm. Alguns dizem que “não é porque são mulheres no palco, mas porque tocam mal”. E aqui eu imagino toda a violência psicológica que as mulheres e meninas sofrem quando resolvem tocar um instrumento até toda a pressão de terem que provar aquilo que o público nega-se a aceitar quando sobem no palco para depois dizerem que mulheres “tocam mal”??!!! Muitas pessoas “tocam mal” quando estão aprendendo. A diferença é quando um homem “toca mal” é porque está aprendendo, ou estava nervoso no dia, já a mulher quando “toca mal”, toca mal porque é mulher.

Esse é um dos estigmas das bandas de meninas. Seu problema é que independente do som que toquem, das letras que escrevam, da atitude no palco, da idade das integrantes, são sempre “apenas uma banda de menina”[1]. Porém, elas se tornam mais transgressoras no sentido de que sempre estão lá para lembrar que o rock deve ser um espaço de todos os gêneros, quer queira, quer não. Elas assumem posições de combate a uma idéia estritamente masculina de rock sem precisar do aval de ninguém. Mesmo com todo o estigma de “apenas uma banda de menina”, elas também inspiraram muitas meninas (e até meninos) a tocarem e, também, a assumir posições que desejam, mesmo que não lhe sejam oferecidas.

Podemos dizer que no Século XXI algumas coisas mudaram. Dependendo do lugar, já é comum e naturalizado ver mulheres em bandas de rock e metal. Entretanto, temos que ter consciência que esse espaço ainda é predominantemente masculino e, muitas vezes, violento contra as mulheres. Eu me pergunto para onde o rock quer caminhar com sua plaquinha de “subversão ao sistema” se no seu interior é conservador quanto as posições das mulheres? Que subversão é essa, então? Nenhuma, em minha opinião.



[1] Engraçado, que não existe “banda de menino”, pois banda de menino é quase um pleonasmo. Nossa própria linguagem exclui.

*Escrito por Clarissa Carvalho e Alexandra Martins

domingo, janeiro 14, 2007

"Lésbica denuncia Lesbofobia de boate sertaneja de Goiânia "

Release Imprensa:


"Andréa Angélica de Jesus ,analista de sistema denunciou hoje na
Associação goiana de gays, lésbicas e transgeneros-AGLT que foi vítima de
lesbofobia ( aversão/agressão as lésbicas) na boate sertaneja Eclipse
. No dia 06 de janeiro Andréa e sua companheira A.C.P.M.M foram
agredidas por 15 seguranças da boate, depois de trocaram um beijo em público.
Além da violência física contra as mulheres, a casa de shows eclipse
está sendo denunciada pelo fato da humilhação que as lésbicas foram
submetidas com as palavras de “ baixo calão” desferidas pelos seguranças ,
como vagabundas, aberrações da natureza, safadas. De acordo com Andréa
“ fomos agredidas na maior covardia com socos,socos, tapas, sendo
arrastadas por toda a casa pelos cabelos.Segundo a vítima, seus amigos
gravaram todas as cenas das agressões em aparelhos celulares que foram
retidos pela casa de show e apagados todos os arquivos que tinham sido
salvos, acabando assim, com provas concretas (fotos e vídeos) da ação
dolosa dos seguranças.

De acordo com as vítimas a polícia foi chamada para dar
segurança e, ao chegarem no local agiram de forma machista, não ouviram
as declarações das lésbicas e as mandavam calar a boca deixando a
insinuar que as mesmas é que eram as culpadas pelo tumulto.


A audiência penal está marcada para o dia
15/02/2007, às 14:30 horas, no JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL, localizado na RUA
RF-13, ESQUINA COM RUA RF-09, RESIDENCIAL FELICIDADE, GOIÂNIA/GO, FONE:
(62) 3207-4522 ."