terça-feira, novembro 09, 2004

Sem Sentido Sinto

Enquanto não preparo algo original pra escrever, gostaria de divulgar (mais do que já foi) uma frase do Sartre com a qual me identifico " sou um ser que nasce sem motivo, dura por fraqueza e morre por acaso". Para ele, nascemos sem motivo por não haver uma essência que precede tal existência, ou seja, simplesmente somos lançados na vida e construiremos o que planejarmos sem depender de qualquer predeterminação. Duramos por fraqueza porque passamos a vida inteira fazendo escolhas, mas, mesmo com todos os desgostos e desamparos, não temos a coragem de escolher pelo suicídio (salvo exceções). Morreremos por acaso porque sabemos que isso vai acontecer mas não como, simplesmente acontecerá e depois de um tempo nada isso significará. Realmente eu nasci sem ter pedido e quando penso na minha vida lembro de coisas boas e ruins, mas sei que se eu quiser reintrepretar tudo, as coisas boas podem se tornar ruins, e vice-versa, como posso reinterpretar tudo como bom, ou tudo como ruim, ou seja, a minha cabeça faz o que ela quiser e os acontecimentos externos passam a não ter tanta importância como objetividades mas sim como imaginações, ainda mais quando descubro que as pessoas não estavam pensando como eu, o que acontece várias vezes como reafirmação da solidão da minha mente. Portanto, se é tudo uma questão de construção, eu não precisava ter nascido pra ficar significando, dá muito trabalho viver. Todavia, é exatamente por causa de algumas construções que não tenho a coragem de me matar. Sempre que penso na possibilidade, automaticamente vêm aquelas visões: "aih, mas como minha mãe vai ficar?" "oh não, nunca mais vou tomar sorvete e comer sushi!" "ah, queria transar com mais pessoas". Nesses momentos automaticamente vem aquela muralha de valores, tudo que gosto de fazer, coisas que tenho medo de perder, pessoas que gostaria de ver mais vezes, mil fraquezas que nos seguram para a vida, mesmo com todo o desamparo e a solidão aterrorizante de minha consciência, não tenho coragem... Insistimos em viver, em continuar amando e sofrendo, tendo prazeres alimentares à custa de outros animais e vegetais. Dá medo se matar. Morrerei por acaso. Existe grande probabilidade de ser câncer, um modo muito fácil de morrer hoje em dia, mas não sei e nem quero falar sobre isso, pois como uma humana, tenho pavor da morte. Entretanto, depois que ela chegar, com certeza nada mais vai ter sentido para mim se eu não existir, apenas para alguns que ficarem até morrerem também e para os animais que eu comeria se não tivesse morrido. Que adiantou nascer, aprender, sentir, amar, chorar, odiar, vingar, sorrir, dançar, temer, brincar, estressar, esperar, lamentar, duvidar, pra depois morrer por acaso? Será que vale a pena construir e descontruir tanta coisa, uma história inteira, sabendo que ela vai acabar? Será que não é melhor não viver a ter que viver sabendo que tudo vai acabar e não ter sentido nenhum algum dia?