terça-feira, abril 26, 2005

Direito à vida (de quem?)

Quando se fala com a boca cheia em "Direito à vida" em assuntos como a legalização do aborto, entre outros, muitas vezes não se presta atenção em vidas como essas:
Preparem seus estômagos, mentes e valores, pois esse vídeo não é nada agradável e nos faz sentir vergonha e raiva de sermos os "tais seres racionais humanos escrotos ", sempre um degrau acima do que quer que seja....
Antropocentrismo maldito!!

terça-feira, abril 12, 2005

Verdades Construídas Sem Querer (querendo) Parte II

Dois amigos conversam:
- Você sabia que Brasília tem o maior índice de câncer de pele do país?
- Aé? Não. Por quê?
- Eu acho que é por causa da atitude.
- Nada a ver, segundo o que a gente aprendeu em biologia, era pro sul ter um índice maior porque lá há mais pessoas de pele clara, ou seja, menos melanina, menos proteção.
- Pó, mas eu vi na Super Interessante!
- Ah, bom, achei que você estava me enganando.

Parece que nesse mundo ocidentalizado para saber que informação é válida ou não, só precisamos saber se sua comprovação científica foi publicada e a fonte. Informações sobre índios: se um antropólogo disser é verdade. Células tronco: é verdade se vier de pesquisa de uma universidade, dita por um biólogo, ou um médico, mas se sua vizinha bancária disse, desconfie, porque ela pode ter ouvido e distorcido.
Hahahaha, como se uma revista tipo a Superinteressante não distorcesse, nem criasse nenhuma verdade na produção do texto a publicar. Mesmo que não seja essa a intenção, às vezes dependendo da forma que a revista coloca no texto, lemos como algo comprovado e conseqüentemente temos uma nova verdade para guiar nossas vidas. Entretanto o mais interessante é quando se tem essa intenção.

Por exemplo, sai lá: “Pesquisadores de Cambridge afirmaram encontrar um hormônio a mais no cérebro de homem, que indica uma propensão à poligamia. Sendo quase nula a quantidade do mesmo hormônio na mulher. Logo isso talvez explique todo o histórico adultero dos homens.” A partir disso, Joãozinho sai tranqüilamente (sem mais culpas) traindo a esposa, enquanto ela se consola em casa: “fazer o que? se é da genética dos homens?”

Pesquisadores de Cambridge? Quais? Quantos? Quando foi feita a pesquisa? Quanto tempo durou a pesquisa? Com quem fizeram, qual o tamanho da amostra de cérebros? O que o cérebro reconhece como poligamia? Há outro lugar em que eu posso ver isso, tipo a página do Departamento de Neuroendocrinologia de Cambridge com os detalhes da pesquisa? Não. Não se desconfia daquelas informações porque saíram numa revista muito famosa, que não vai ficar mentindo à toa. E veio de Cambridge, mais confiável ainda! Não se dá atenção pra palavrinha “propensão”, que já tira a certeza. Muitos menos na conclusão que a Superinteressante dá – humilde ainda, porque usou a palavra “talvez”. Mesmo assim, já se encara como uma verdade. Não se questiona. É uma legítima DESCOBERTA. Tudo foi explicado, acabaram-se as divergências.

Entretanto...

Felizmente existem pessoas críticas como nós que não acreditamos na Superinteressante e sabemos que o fator histórico-cultural é que faz o homem... Felizmente? Mesmo questionando uma informação dita científica estou usando uma lógica científica e acadêmica para questiona-la. Se me levarem no laboratório e me informarem o tamanho da amostra, aí sim eu posso acreditar, independente das posições políticas e crenças de cada pessoa lá dentro. Só essa comprovação empírica me satisfaz?

A questão é que não importa se o IBGE ou o Stephew Hawking tenham “descoberto”, estamos falando de um ponto de vista apenas. Uma linguagem humana, mais um discurso apenas: o científico, o acadêmico e seus agregados. Uma fala cheia de palavras perigosas como “conprovou”, “descobriu”, sendo que a maioria dessas pesquisas é feita por métodos probabilísticos. Instituições das quais conhecemos bem suas histórias.
Um dia desses passei em frente ao Departamento de Física da UnB e ouvi um professor falando pra dois alunos: “[...] aí a gente pega esses dados, joga nas equações, chuta uns valores e acompanha [...]” Então é assim que explicamos o mundo? Depende dos resultados que derem dos dados que a gente jogou nas equações criadas por nós e chutamos uns valores? Simples assim? Com um selinho de “cientificamente comprovado” não apenas acreditamos, mas até questionamos dentro de um pensamento. Nossas próprias palavras de fala: uma lógica hegemônica.

Nossa verdade é quantitativa, validamos o que aparece num grande número, a representatividade é numérica. Não sabemos como ocorrem todas essas comprovações, mas confiamos e criticamos cegamente na/pela lógica científica. Será que não podemos ir mais além? Como questionar a própria necessidade de comprovação. Por que essa necessidade de tentar achar uma explicação universal para tudo? Por que achar ainda que um sistema todo hierarquizado, sistematizado com a pretensão de estar fora de nossa condição repugnantemente humana vai nos levar para UMA resposta, só porque ele se aplica em algumas coisas? Por que queremos UMA resposta? UMA, verdade? Por favor, eu quero sair dessa lógica!